Dentadinhas

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

discurso do orador

O discurso do Juliano tava perfeito. Para o deleite de todos, transcrevo abaixo:
“““Prezadas autoridades da mesa; querida paraninfa professora Sandra de Deus; professores homenageados; prezados pais, familiares e amigos; colegas formandos.
As atribuições básicas do verdadeiro jornalismo podem ser resumidas ao livre exercício do espírito crítico, a fidelidade à verdade dos fatos e a saudável vigilância ao poder. O objetivo do jornalismo é colaborar para a disseminação do esclarecimento e da informação, contribuindo para um mundo mais justo.
No entanto, todos os dias assistimos a uma inversão desses valores. Esta inversão tornou corriqueira a distorção da verdade e a impune veiculação de mentiras. O jornalismo tem o poder único de transformar em verdade aquilo que escreve no papel dos jornais e nas páginas eletrônicas da internet, fala nas ondas do rádio e mostra nas imagens da TV. Ganhou, por vezes, perigosos contornos de entretenimento barato, buscando mostrar aquilo que melhor convém à sua audiência ou a si mesmo. Temos, hoje, um jornalismo assim: comprometido com uma só visão e quase sempre nocivo e leviano. Isto atende a um objetivo velado de alienar e de criar uma apatia social, que, de certa forma, já foi conquistada.
Este jornalismo esquizofrênico também resulta de uma instrução acadêmica deficiente, que privilegia o ensino técnico. Nossa função social, que deveria ser a base de nossa formação, está relegada ao segundo plano, em detrimento de noções superficiais da profissão. Considera-se mais importante a maneira correta de portar-se frente a uma câmera do que o conteúdo transmitido através dela. Isto é um engano. Formar bons jornalistas vai além: passa por uma educação humanística, fundamentada na ética, na reflexão e na responsabilidade frente a todos os segmentos da sociedade. Existe um conflito evidente na atual estrutura do ensino de comunicação, que une o Jornalismo aos cursos de Publicidade e Relações Públicas, áreas distintas em suas motivações. O ensino do jornalismo precisa encontrar novos rumos através de uma reaproximação com as humanidades: a Sociologia, a Filosofia, a Geografia e a História. Assim, acreditamos que seria possível a construção de um novo jornalismo.
Nesta noite especial, recebemos nosso diploma. Mesmo com todos os problemas enfrentados em nossa educação universitária, lamentamos que nossa graduação não conte com o devido reconhecimento. Hoje, a validade do diploma do curso superior de jornalismo é questionada legalmente em nosso país. Algumas empresas defendem que não é necessária a formação acadêmica para exercer a profissão. Em diversos momentos ao longo dos últimos anos, a obrigatoriedade do diploma foi anulada. Consideramos isso um desmerecimento aos anos passados na universidade e à própria profissão, que é de grande importância para a sociedade. A origem dessa desvalorização (desse desrespeito?) está na perda do verdadeiro significado do jornalismo e no crescente poder do mercado, que prefere consumidores a cidadãos.
Todos têm direito à comunicação. O jornalismo é o agente principal de integração entre as pessoas. Nosso trabalho é o de refletir a verdade, propondo interpretações e sugerindo alternativas. Acreditamos que um jornalismo independente e ético só é possível com liberdade. Liberdade de expressão para nosso trabalho e também para que o público tenha acesso a diferentes visões da realidade, contribuindo para um espírito crítico e coletivo.
Todos nós, agora jornalistas formados, temos um pouco de imprudência em nossas personalidades. Escolhemos uma profissão que nos exige tempo a mais e salário de menos. Nosso ofício nos expõe, e nossos erros são facilmente percebidos e condenados por todos. Em troca, o jornalismo nos oferece aventura e conhecimento constante.
O escritor e jornalista colombiano Gabriel Garcia Márquez define bem o que considera, com a nossa total concordância, a melhor profissão do mundo. Diz ele: “Ninguém que não tenha nascido para o jornalismo e esteja disposto a viver só para ele poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz. Sua obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre. Porém, não concede um instante de paz enquanto não recomeça com mais ardor no minuto seguinte".
Muito obrigado.”””