Dentadinhas

sábado, novembro 25, 2006

Ó, escrevi um texto para o último ZH Centro sobre o meu bairro. Taí:

Da Cidade Alta para a Cidade Baixa
VANESSA NUNES/ Repórter de Economia de Zero Hora e moradora da Cidade Baixa
 

Jovem deixa a casa dos pais, em uma cidade pequena, para fazer faculdade na Capital. Aí adota a Cidade Baixa. A situação - que enquadra boa parte dos moradores do bairro - também serve para mim. Não fica difícil entender por que o escolhi - ou, como costumo dizer, foi a Cidade Baixa que me acolheu, como faz com esses tantos estudantes que traçam um caminho parecido todos os anos.
Jovens que depois se formam mas não deixam o bairro. Talvez seja a relação sentimental com as quadras e as ruas que presenciaram um momento importante em que se vira "gente grande''. Não acredito muito nessa história de que seja só a vida noturna o que prende pessoas jovens à Cidade Baixa. Aliás, vocês notaram que os bares estão fechando cada vez mais cedo?
Por outro lado, nos mesmos sábados à noite em que sei que a Lima e Silva está fervendo, dá para ouvir, do sexto andar em que moro, poucas quadras distantes dessa badalação, barulho de bola quicando no chão. Vou até a sacada - meu prédio fica na esquina da travessa Tuyuty com a André da Rocha, a avenida com árvores no canteiro central - e vejo crianças jogando futebol na rua, vezes na Tuyuty, vezes na André da Rocha. Algo que destoa do cenário de prédios altos, concreto. E me faz lembrar uma infância no Interior, como a minha, jogando vôlei na rua ou subindo em goiabeiras. Só que os flanelinhas que habitam a Tuyuty durante o dia insistem em me lembrar que não estou mais em Butiá, minha cidade natal. Quantas vezes não acordei com o bate-boca e a troca de palavrões entre eles. Há dias em que também acordo com o canto de passarinhos. O bacana é exatamente essa sensação de vários mundos em um só lugar.
OK. Tem um detalhe: não moro exatamente na Cidade Baixa. Praticamente duas quadras me separam da Perimetral, onde, de fato, começa o bairro. Cada correspondência que chega, cada vez que preciso preencher o CEP, sou lembrada de que, oficialmente, estou no Centro. Nada contra o Centro, não. Até porque estou longe do fervo do centrão e gosto de uma vista que alia prédios altos e crianças jogando bola à noite. Mas talvez seja por me identificar com a Cidade Baixa que me aproprio do bairro. Aliás, em Butiá, morava na Cidade Alta - nesse caso, o CEP confirmava que o nome do meu bairro era realmente o que eu dizia ser.